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Bases moleculares e terapia gênica na paraparesia espástica hereditária

No dia 27 de junho de 2020 às 13h (horário de Brasília), ocorreu o segundo dia do evento Global Virtual Conference (Conferência Mundial Virtual) da Spastic Paraplegia Foundation (SPF, Fundação de Paraparesia Espástica). Neste dia ocorreu uma palestra do Dr Fink, que se dedica ao estudo científico das bases moleculares de doenças raras neuromusculares, dentre elas a paraparesia espástica hereditária (PEH) e a esclerose lateral primária (ELP).

Dr. Fink expõe que a Spastic Paraplegia Foundation (Fundação de Paraparesia Espástica) abrange a PEH e a ELP por serem duas condições genéticas relacionadas que apresentam sobreposição de sintomas em alguns casos.

Características da PEH e da ELP

Tanto a PEH quanto a PLS apresentam alterações envolvendo o neurônio motor e um maior entendimento do processo degenerativo proporcionará grande avanço no tratamento destas doenças.

Os neurônios motores (NM) estão diretamente envolvidos em todos os tipos de movimentos musculares. Há basicamente dois tipos de NM: (a) neurônio motor superior (NMS), transmite o impulso nervoso do cérebro até a medula espinhal e (b) neurônio motor inferior (NMI) que transmite o impulso nervoso da medula as fibras musculares.

Doenças associadas ao NMS estão associadas a reflexo aumentado, clonus, espasticidade, fraqueza, perda de agilidade, sinal de babinski, dentre outros. Já as doenças envolvendo o NMI geralmente estão relacionada a sintomas como fraqueza, atrofia, fasciculações e reflexos reduzidos.

Na PEH é comum a propriocepção também ser afetada, enquanto na ELP é mais raro a presença deste sintoma. Há raríssimos casos onde há também na PEH o comprometimento do neurônio motor inferior, tornando os sintomas similares a esclerose lateral amiotrófica.

Desenvolvimento de Tratamentos para PEH e para ELP

Quando pensamos no desenvolvimento de um tratamento para qualquer doença, temos uma lista de coisas a serem desvendadas, e no caso da PEH e da ELP não é diferente!
1. A primeira pergunta que precisamos responder é que tipo de tratamento queremos desenvolver.
a. Prevenir o início da doença – neste caso seria necessário corrigir a mutação gênica na célula ovo ou nos estágios iniciais do desenvolvimento do embrião. Neste caso, é importante pensarmos na segurança e nos aspectos éticos deste procedimento, sendo a seleção de embriões uma boa alternativa;
b. Interromper a progressão – para este tratamento haveriam variações de acordo como subtipo de PEH/ELP, sendo necessário avaliar qual a melhor estratégia silenciamento ou substituição gênica. Adicionalmente teríamos que avaliar que célula deveria ser tratada, pois algumas vezes a degeneração no neurônio se deve à um problema na célula da glia;
c. Tratar os sintomas – não interrompe a progressão da doença, mas traz benefícios ao diminuir as consequências vindas da degeneração do neurônio. Para tratarmos de maneira mais eficaz sintomas como espasticidade, fraqueza e a perda de agilidade ainda precisamos entender melhor os aspectos químicos e fisiológicos envolvidos neste processo;
d. Todos os tipos de tratamento.

2. Depois de definir que tipo de tratamento temos por objetivo, precisamos definir que estratégia vamos utilizar para seu desenvolvimento. Importante ressaltar que a terapia gênica já não é mais um filme de ficção científica como no passado.

O uso da terapia gênica no tratamento de doenças, inclusive das que afetam o sistema nervoso, vem se tornando uma estratégia real, tendo inclusive tratamentos aprovados pela FDA. Dos tratamentos já aprovados, podemos citar os indicados para Distrofia Muscular de Duchene, Amiotrofia Muscular Espinhal e Parkinson.

No que diz respeito a PEH, o desenvolvimento de terapias genicas está nos estágios iniciais para alguns subtipos como SPG4, SPG15 e SPG47-52.

Importante ressaltarmos que ainda há muito a ser realizado e estudado, precisamos desenvolver modelos animais para estudos pré-clínicos, identificar biomarcadores associados a neuroquímica da espasticidade, avaliar o uso de células-tronco no tratamento de doenças neurodegenerativas e aprimorar técnicas de transferência de genes/proteínas para o sistema nervoso.

Muita coisa neh??? Mas muita coisa também tem sido feita! A ciência não para e novidades chegam a todo momento!!!

Por Michelle L. Detoni1, Celyna K. Rackov2 e Fernanda Bittar3
1Doutora em Ciências Biológicas (Genética e Biotecnologia)
2Núcleo Médico Científico ASPEH Brasil
3Coordenadora de Pesquisa Clínica Neurogenética, UNICAMP

Referência:
SPF Global Virtual Conference Day Two on June 27, 2020

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