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Saúde, Ciência & Tecnologia

A cura de doenças do Neurônio Motor Superior

Elaborado por Michelle Detoni, PhD em Biologia

NMC, Núcleo Médico Cientifico da ASPEC Brasil

 

“Como construir estratégias eficazes para o tratamento de doenças do neurônio motor superior?” Este foi o tema da palestra ministrada pela Dra. Hande Ozdinler, em 19 de junho de 2021, na Conferência Virtual de 2021, promovida pela Spastic Paraplegia Foundation.

 

Quem é o neurônio motor superior e qual sua importância?

O neurônio motor superior é uma célula muito longa do sistema nervoso, que realiza a conexão do cérebro com a medula espinhal. Ele é capaz de “escutar” o que o córtex cerebral diz e converter essa informação em impulso nervoso, transmitindo-o ao longo da medula espinhal até o próximo neurônio (Neurônio Motor Superior). É como se o neurônio motor superior fosse o porta-voz do cérebro para a realização de movimentos voluntários.

Quando ele não funciona adequadamente, a produção e a modulação dos movimentos voluntários ficam prejudicadas, podendo afetar a marcha, o movimento dos braços e de mãos, bem como a fala e a deglutição. Há doenças em que o neurônio motor, por não funcionar bem, degenera-se, ou seja, morre e passa a não realizar a comunicação entre o cérebro e a medula espinhal. Entre elas podemos citar a Paraparesia Espástica Hereditária, a Esclerose Lateral Primária e a Esclerose Lateral Amiotrófica.

 

Quais são os obstáculos enfrentados para se ter um tratamento eficaz para doenças do neurônio motor superior?

– Científico: a primeira limitação para a descoberta da cura dessas doenças é a falta de informações sobre o que torna o neurônio motor superior vulnerável, o que de fato faz ele se degenerar.

– Técnico: (i) por serem doenças raras, são poucas as pessoas disponíveis, existindo ainda grande heterogeneidade dentre elas, para realização dos ensaios clínicos; (ii) não há drogas sendo estudadas em estágio pré-clínico (células e camundongos) para avaliarmos sua eficiência em humanos; (iii) não há biomarcadores para avaliarmos o efeito de um potencial medicamento.

 

Como podemos transpor essas limitações?

Através de estudos. Conhecimento é poder!

Desvendando os mecanismos através dos quais o neurônio motor superior fica vulnerável, poderemos realizar uma intervenção terapêutica mais eficaz.

 

Qual o caminho para desenvolvermos a cura das doenças do neurônio motor superior?

Provavelmente, a cura não virá através da criação de novos neurônios que substituirão os doentes, pois isso é extremamente difícil. Isso porque teriam que se criar também interações semelhantes com o córtex cerebral e na medula espinhal. Embora pareça complicado, reparar o neurônio parece ser mais viável.

Atualmente, sabemos que, apesar da grande diferença entre humanos e camundongos, eles possuem o neurônio motor superior bem parecido. Assim, os camundongos passam a ser um modelo interessante para o estudo da degeneração do neurônio motor superior e do estudo pré-clínico de potenciais medicamentos.

Olhando dentro do neurônio motor superior, podemos observar o que há de errado, qual é o problema que ocorre a nível molecular, e, inclusive, entender as alterações que ocorrem nos diferentes estágios da doença.

Já percebemos que quando “doente”, o neurônio motor superior apresenta alterações em estruturas intracelulares, como o Complexo de Golgi, a mitocôndria, o citoesqueleto e o retículo endoplasmático rugoso. Essas estruturas são importantes para a manutenção da célula e, quando alteradas, geram um grande estresse que leva o neurônio motor superior à morte.

Sob o ponto de vista da Dra Ozdinler, não teremos um tratamento convencional a ser ministrado por todos os pacientes de paraparesia espástica hereditária ou esclerose lateral primária ou esclerose lateral amiotrófica. Mas sim, tratamentos específicos para os diferentes mecanismos que “adoecem” o neurônio motor superior em diferentes doenças, baseado no tipo de mutação gênica existente.

 

Fonte:

2021 SPF Virtual Conference Series 1

 

 

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