E lá vinha o Barbosa, dando uma gostosa gargalhada… com a alça de um balde na mão. Barbosa havia misturado o cloro utilizado para desinfecção de piscinas com um desinfetante para “aumentar o poder de limpeza”. A pequena explosão provocada, arremessou o balde para longe, deixando apenas a alça na mão de Barbosa, que felizmente não sofreu qualquer ferimento.
O que Barbosa não sabia, e a maior parte da população também não sabe, é que existem sérios riscos quando são misturados produtos de limpeza presentes em nosso cotidiano e disponíveis para compra no comércio em geral. O cloro granulado usado em piscinas, por exemplo, tem elevada concentração de hipoclorito de cálcio e pode reagir facilmente com desinfetantes e detergentes produzindo gases tóxicos e explosões.
Muitas vezes ouvimos falar em amônia, hipoclorito e álcool. O problema é que existe pouco conhecimento sobre a utilização desses agentes de limpeza e desinfecção para além das experiências pessoais e, não obstante o pouco conhecimento sobre a química, são raros os usuários que leem os rótulos dos produtos e buscam sua utilização mais consciente.
Na cruel experiência que estamos vivenciando nesta pandemia causada pela COVID-19, muito tem sido noticiado e divulgado em redes sociais sobre a higienização das mãos com água e sabão, mas também sobre a utilização do álcool 70 em gel e hipoclorito de sódio (água sanitária). O que poucos sabem, é que esses produtos isoladamente já exigem grande cuidado. O hipoclorito de sódio, por exemplo, é um agente químico perigoso à saúde se utilizado de forma inadequada. O composto é um potente oxidante, capaz de gerar gases tóxicos e causar danos à saúde, como irritações e queimaduras na pele, olhos e vias respiratórias.
Mais perigoso ainda, quando inadvertidamente esses produtos são misturados na expectativa de obtenção de uma ação mais intensa. A mistura de água sanitária com o álcool pode produzir clorofórmio e ácido clorídrico, que afetam sistema nervoso, pulmões, rins, fígado, olhos e pele, podendo causar a morte do usuário.
Outra mistura perigosa é a de hipoclorito de sódio com produtos que contenham amoníaco (limpa-vidros, agentes multiuso, detergentes, amaciantes e desinfetantes sanitários). A geração de um produto tóxico e potencialmente explosivo, chamado cloramina, pode causar sérios danos à saúde, sobretudo em ambientes fechados. Por vezes, produtos tóxicos são liberados em pequenas quantidades e o usuário não percebe que está sendo diariamente intoxicado.
Outra questão, menos importante, é que muitas vezes as misturas que são feitas neutralizam as ações pretendidas. É o caso da mistura de água sanitária com amaciante, que produz cloramina e inviabiliza as ações de seus princípios ativos úteis por neutralização. Outra mistura inócua é a de vinagre com bicarbonato de sódio. É conhecido que ambos os produtos são excelentes agentes de limpeza se utilizados separadamente. Porém, devido às suas propriedades químicas antagônicas, o ácido acético do vinagre neutraliza o bicarbonato de sódio e, dependendo da quantidade e se o recipiente estiver fechado, pode haver pequena explosão devido à pressão exercida pelo gás produzido na reação entre eles.
Há outras combinações que também não devem ser feitas sob hipótese alguma. Vinagre e água sanitária produzem o gás cloro, extremamente irritante para as vias aéreas e olhos, podendo ser fatal. Desentupidores de ralos e pias contêm soda cáustica e nitrato de potássio e não devem ser misturados com detergentes; vinagre jamais deve ser misturado com água oxigenada; e também deve ser evitada a todo custo a mistura de água sanitária com amônia e sabão em pó, sob o risco de produção de gases tóxicos.
Portanto, devem ser sempre evitadas as misturas de produtos químicos de higiene e limpeza aos quais costumeiramente temos acesso e a sua utilização deve ser feita de forma separada e observando-se as recomendações dos fabricantes. Mesmo assim, devem ser tomadas todas as precauções na hora da utilização, verificando a necessidade da utilização de luvas, botas e máscaras, além de manter os frascos bem fechados e guardados em local adequado e inacessível a crianças ou pessoas despreparadas.
Cuide da sua e da saúde dos outros!
Roberto Rodrigues Cunha Lima, PhD
Professor de Química do IFRN
Referências:
ANVISA. Orientação. Covid 19: só use saneantes regularizados. 17/03/2020.
DISTRITO FEDERAL. INSTRUÇÃO NORMATIVA DIVISA/SVS Nº 7 DE 02/06/2017. Define critérios mínimos para o funcionamento, qualidade e avaliação das atividades de piscina, saunas e afins.
Helmenstine, Anne Marie, Ph.D. “Chemicals You Should Never Mix.” ThoughtCo, Feb. 11, 2020, thoughtco.com/chemicals-you-should-never-mix-606817.
Patra AP, Shaha KK (2017) Household Chemicals and Pharmaceuticals – A Lurking Danger in Home. Forensic Res Criminol Int J 5(3): 00156. DOI: 10.15406/frcij.2017.05.00156