Dentre muitas patologias neurológicas a Paraparesia Espástica Hereditária (PEH), também comumente conhecida como Paraparesia Espástica Familiar (PEF), traz a pessoas com PEH comprometimentos a depender de sua classificação genética.
Para grande maioria das pessoas acometidas pela patologia, a perda funcional da marcha é a principal alteração, afetando diretamente a realização de suas atividades de vida diária e contribuindo para a redução da participação social. Este último fator é considerado para a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, elaborada pela Organização Mundial de Saúde.
Sendo assim, realizar o processo de reabilitação motora é sem dúvida de grande importância, mas este processo deve ser mais amplo e melhor detalhado pelos profissionais que são responsáveis pelos cuidados.
A fisioterapia pode extrapolar as barreiras físicas da academia/clínica, e ser realizada em locais públicos como praia/parques que possibilitem também a socialização do paciente. Sempre lembrando que o paciente deve ser visto como um ser biopsicossocial, transcendendo o limiar meramente biológico.
Abaixo um vídeo exemplificando como a fisioterapia em um local aberto pode trazer maior leveza ao exercício.
As doenças neuromusculares compreendem um grupo heterogêneo de desordens que acometem o funcionamento dos músculos, por afetar o sistema nervoso central, sistema nervoso periférico, a junção neuromuscular e/ou os músculos. Para entender melhor, precisamos ter uma noção de como ocorre o comando do cérebro para a realização de um movimento voluntário.
O neurônio motor integra o sistema nervoso periférico, tendo por função, levar a informação do sistema nervoso central (córtex cerebral) até os músculos. Na verdade, o termo “neurônio motor” refere-se a dois neurônios, um que transmite a informação do córtex cerebral até a medula espinhal (Neurônio Motor Superior) e outro que leva a informação da medula espinhal até o músculo (Neurônio Motor Inferior).
Para que a informação que vem do neurônio chegue as fibras musculares, ela precisa ser transmitida através da junção neuromuscular, que nada mais é que um espaço que comunica o nervo ao músculo. Finalmente, a informação precisa ser recebida e corretamente entendida pelas fibras musculares, que executarão o movimento voluntário pretendido.
Quando o acometimento ocorre em uma dessas três etapas, temos uma doença neuromuscular, onde a informação transmitida ao músculo é prejudicada. Assim, o comprometimento funcional é externalizado como perda de força muscular, atrofia, espasticidade, problemas de equilíbrio, incoordenação de movimentos e outros.
Estas doenças podem ser herdadas dos pais, ser causadas por uma mutação gênica nova (quando ninguém na família tem a doença), serem causadas por uma desordem no sistema imune ou ainda ter uma causa infecciosa (ex. HTLV, pós pólio)
Alguns exemplos de doenças neuromusculares são:
Doenças do neurônio motor: esclerose lateral aminiotrofica, paraparesia espástica hereditária;
Desordens musculares: distrofia musculares, miopatias inflamatórias e do sistema imune;
Junção neuromuscular: miastemias gravis e síndromes miastêmicas.
Por Michelle Detoni, Celyna Rackov e Priscila Molina
Nós estamos o tempo todo escutando que temos uma doença de origem genética, que precisamos fazer um teste genético para fechar um diagnóstico… Muito comum também nos depararmos com termos como exoma, genoma completo, mutação…
Mas o que de fato é isso???
Vamos tentar entender um pouquinho essa tal Genética? Venham comigo!!!
Todos
os seres vivos são compostos por unidades pequeninas denominadas
células. A maioria das células do corpo humano
tem em torno de 10 µm
que equivale a 1 cm dividido em mil partes! Existem também células
maiores, como algumas células neuronais que chegam a medir 1 metro
de comprimento! 😮😮
Uma
célula bem comum em nosso dia a dia, e que conhecemos bem, é o ovo.
Nele, podemos começar a entender a constituição da célula:
membrana celular, o citoplasma (clara do ovo) e o núcleo (gema).
Michelle,
quero entender Genética, o que o ovo tem a ver com isso???
Calma,
vamos lá!
Dentro
do núcleo é onde encontramos o que chamamos de material
genético/DNA/Gene/Cromossomo!!!
O
DNA é como uma enciclopédia, onde está escrita toda informação a
respeito das atividades que a célula deve desempenhar. Esse livro é
escrito usando uma sequência de 4 letrinhas (A, T, C, G). E como em
qualquer palavra, a ordem das letras é extremamente importante.
Quando ocorre alguma mudança ou alteração nessa ordem, falamos que ocorreu uma mutação. As mutações podem nos trazer benefícios ou prejuízos. Ou seja, pode nos trazer um prejuízo, quando naquela sequência de letrinhas estava as informações sobre como nosso neurônio deve funcionar; e, na nova sequência, essas instruções deixam de existir. Assim, podemos desenvolver uma doença genética.
A Paraparesia Espástica Hereditária (PEH) abrange um grupo heterogêneo de distúrbios neurológicos que tem como principais sintomas a fraqueza e/ou espasticidade dos membros inferiores. A Fisioterapia representa a abordagem terapêutica mais importante para aliviar esses sintomas. A variedade do quadro clínico da PEH é grande, portanto a avaliação individual do fisioterapeuta é importante para a determinação dos objetivos, também individuais. (Para mais informaçoes sobre a variedade no quadro clínico da PEH acesse: https://www.aspehbrasil.org/causas-e-sintomas/).
Além da fisioterapia motora em solo, dentre as atividades físicas que indivíduos com PEH têm reportado maiores benefícios, destacam-se os exercícios aquáticos como, a fisioterapia aquática (hidroterapia), a hidroginástica e a natação.
As atividades aquáticas podem proporcionar uma variedade de benefícios à pessoas com dificuldades motoras. A água, muitas vezes, ajuda essas pessoas a se moverem de maneira que não são capazes no solo, uma vez que na água ficamos 90% mais leves facilitando assim a movimentação ativa. Além disso, dependendo da posição do corpo e da região a ser trabalhada, a água pode ser usada como resistência ao movimento, fortalecendo a musculatura ou como facilitadora de um movimento que por vezes é difícil ou mesmo impossível fora da piscina; a água funciona também como apoio e suporte, podendo facilitar o equilíbrio.
A temperatura da água pode ser uma aliada. A faixa de temperatura mais utilizada para hidroterapia varia de aproximadamente 30ºC a 35º C, apresentado excelentes resultados na grande circulação, mobilidade e tônus.
Hidroterapia
A hidroterapia é constantemente indicada para tratamento relacionado a PEH e está totalmente ligada à fisioterapia de solo e respiratória, auxiliando também as demais terapias dependendo da necessidade de cada paciente.
Dentre os principais objetivos da hidroterapia encontram-se:Manter e melhorar a movimentação ativa, a capacidade cardio-respiratória, a capacidade funcional, a qualidade de vida promovendo, inclusive, interação social.
Um estudo realizado na Nova Zelândia analisou a eficiência da hidroterapia na marcha de pessoas com PEH. Nesse estudo, nove pessoas com PEH foram solicitadas a participar de análises de marcha pré e pós-hidroterapia. De acordo com os resultados dessa pesquisa, a média da velocidade de caminhada aumentou significativamente (11%) após a sessão da hidroterapia, indicando efeitos benéficos da hidroterapia para esse grupo.
Hidroginástica
A hidroginástica é derivada da hidroterapia, porém na hidroginástica as atividades são realizadas em grupo sob orientação de um profissional de educação física. A hidroginástica consiste de exercícios elaborados para diversas partes do corpo para trabalhar diferentes capacidades físicas como a flexibilidade, força muscular, equilíbrio, capacidade respiratória e cardiovascular.
Natação
A natação é um dos esportes mais completos e proporciona uma variedade de benefícios tanto para indivíduos em geral como para pessoas com algum tipo de deficiência. A natação pode ajudar desde a melhora das capacidades físicas como também nas relações sociais entre as pessoas. Esta atividade aquática trabalha todos os grupos musculares, alivia tensões, ajuda a diminuir a gordura corporal e a recuperar lesões.
O ensino da natação para a pessoa com deficiência poderá sofrer adaptações em relação ao processo que habitualmente se desenvolve. Ao longo do processo, o professor pode utilizar recursos diversos como pranchas, espaguetes, flutuadores, e entre outros para auxiliar o aprendizado dos nados.
Além dos benefícios físicos da natação, destacam-se também os benefícios cognitivos por estimular o desenvolvimento da aprendizagem e o poder de concentração e benefícios psicossociais, uma vez que as atividades aquáticas podem propiciar ao indivíduo atividades em pequenos e grandes grupos, estimulando assim as experiências corporais, a integração e o convívio social.
ATENÇÃO:
*E as atividades na água são indicadas para todos os pacientes? Não! Existem contra-indicações, algumas absolutas como febre, infecções do trato urinário, infecções de pele, e outras como no ouvido, garganta, vias respiratórias e gastrintestinais, capacidade pulmonar muito comprometida, cardiopatias instáveis, doença vascular periférica e epilepsia de difícil controle. Outras são restrições, não cabem regras rígidas como as contra-indicações e sim uma avaliação apurada do fisioterapeuta e da equipe multidisciplinar quanto à relação custo-benefício, são elas: incontinência urinária e fecal, pacientes com histórico de cardiopatia, pressão arterial alta ou baixa controlada, alterações de sensibilidade ou déficit de regulação térmica, feridas ou úlceras abertas e epilepsia controlada.
Cada pessoa pode se beneficiar diferentemente para cada tipo exercício, portanto uma avaliação profissional deve ser realizada.
O vídeo “Atividades Aquáticas” mostra pessoas com PEH realizando atividades aquáticas como hidroterapia, natação e hidroginástica.
Por Celyna Rackov1, Tecia Donato1, Tabita Knaack1, Priscila Molina1,2
1Integrantes do Núcleo Médico e Científico da ASPEH Brasil, 2Fisioterapeuta
MOURA, Elcinete Wentz de; LIMA, Eliene; SILVA, Priscila do Amaral Campos E. Fisioterapia: aspectos clínicos e práticos da reabilitação. São Paulo: ARTES MÉDICAS, 2005.
Silveira, F.G. Benefícios da Hidroginástica para as capacidades funcionais e nível de atividade física em idosas de 60 a 75 anos. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, 2013.
SKINNER, A. T.; THOMSON, A. M. Duffield: Exercícios na água. São Paulo: Editora Manole, 1985.