Dentre muitas patologias neurológicas a Paraparesia Espástica Hereditária (PEH), também comumente conhecida como Paraparesia Espástica Familiar (PEF), traz a pessoas com PEH comprometimentos a depender de sua classificação genética.
Para grande maioria das pessoas acometidas pela patologia, a perda funcional da marcha é a principal alteração, afetando diretamente a realização de suas atividades de vida diária e contribuindo para a redução da participação social. Este último fator é considerado para a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, elaborada pela Organização Mundial de Saúde.
Sendo assim, realizar o processo de reabilitação motora é sem dúvida de grande importância, mas este processo deve ser mais amplo e melhor detalhado pelos profissionais que são responsáveis pelos cuidados.
A fisioterapia pode extrapolar as barreiras físicas da academia/clínica, e ser realizada em locais públicos como praia/parques que possibilitem também a socialização do paciente. Sempre lembrando que o paciente deve ser visto como um ser biopsicossocial, transcendendo o limiar meramente biológico.
Abaixo um vídeo exemplificando como a fisioterapia em um local aberto pode trazer maior leveza ao exercício.
Para que um medicamento esteja em uma farmácia e seja usado com segurança e efetividade para determinada doença é necessário um longo percurso. E nesse caminho é essencial conhecermos bem a doença: sua causa e os processos através do qual surgem os sintomas.
Dessa maneira, para que tenhamos um medicamento que impeça a progressão da Paraparesia Espástica Hereditária, é necessário conhecer detalhadamente cada subtipo, tendo assim um melhor entendimento dos sintomas e do avanço da doença nos diversos subtipos para direcionar potenciais tratamentos a serem testados.
Atualmente existem vários estudos clínicos envolvendo à PEH. Abaixo estão relacionados aqueles em andamento cadastrados na página https://clinicaltrials.gov. Estes estudos clínicos estão concentrados nos Estados Unidos e Alemanha, em breve, falaremos de outros estudos ao redor do mundo.
Por Celyna K. Rackov1 e Michelle L. Detoni2
1Diretora do Núcleo Médico Científico da ASPEH Brasil
2Doutora em Ciências Biológicas (Genética & Biotecnologia)
A Paraparesia Espástica Hereditária (PEH) abrange um grupo heterogêneo de distúrbios neurológicos que tem como principais sintomas a fraqueza e/ou espasticidade dos membros inferiores. A Fisioterapia representa a abordagem terapêutica mais importante para aliviar esses sintomas. A variedade do quadro clínico da PEH é grande, portanto a avaliação individual do fisioterapeuta é importante para a determinação dos objetivos, também individuais. (Para mais informaçoes sobre a variedade no quadro clínico da PEH acesse: https://www.aspehbrasil.org/causas-e-sintomas/).
Além da fisioterapia motora em solo, dentre as atividades físicas que indivíduos com PEH têm reportado maiores benefícios, destacam-se os exercícios aquáticos como, a fisioterapia aquática (hidroterapia), a hidroginástica e a natação.
As atividades aquáticas podem proporcionar uma variedade de benefícios à pessoas com dificuldades motoras. A água, muitas vezes, ajuda essas pessoas a se moverem de maneira que não são capazes no solo, uma vez que na água ficamos 90% mais leves facilitando assim a movimentação ativa. Além disso, dependendo da posição do corpo e da região a ser trabalhada, a água pode ser usada como resistência ao movimento, fortalecendo a musculatura ou como facilitadora de um movimento que por vezes é difícil ou mesmo impossível fora da piscina; a água funciona também como apoio e suporte, podendo facilitar o equilíbrio.
A temperatura da água pode ser uma aliada. A faixa de temperatura mais utilizada para hidroterapia varia de aproximadamente 30ºC a 35º C, apresentado excelentes resultados na grande circulação, mobilidade e tônus.
Hidroterapia
A hidroterapia é constantemente indicada para tratamento relacionado a PEH e está totalmente ligada à fisioterapia de solo e respiratória, auxiliando também as demais terapias dependendo da necessidade de cada paciente.
Dentre os principais objetivos da hidroterapia encontram-se:Manter e melhorar a movimentação ativa, a capacidade cardio-respiratória, a capacidade funcional, a qualidade de vida promovendo, inclusive, interação social.
Um estudo realizado na Nova Zelândia analisou a eficiência da hidroterapia na marcha de pessoas com PEH. Nesse estudo, nove pessoas com PEH foram solicitadas a participar de análises de marcha pré e pós-hidroterapia. De acordo com os resultados dessa pesquisa, a média da velocidade de caminhada aumentou significativamente (11%) após a sessão da hidroterapia, indicando efeitos benéficos da hidroterapia para esse grupo.
Hidroginástica
A hidroginástica é derivada da hidroterapia, porém na hidroginástica as atividades são realizadas em grupo sob orientação de um profissional de educação física. A hidroginástica consiste de exercícios elaborados para diversas partes do corpo para trabalhar diferentes capacidades físicas como a flexibilidade, força muscular, equilíbrio, capacidade respiratória e cardiovascular.
Natação
A natação é um dos esportes mais completos e proporciona uma variedade de benefícios tanto para indivíduos em geral como para pessoas com algum tipo de deficiência. A natação pode ajudar desde a melhora das capacidades físicas como também nas relações sociais entre as pessoas. Esta atividade aquática trabalha todos os grupos musculares, alivia tensões, ajuda a diminuir a gordura corporal e a recuperar lesões.
O ensino da natação para a pessoa com deficiência poderá sofrer adaptações em relação ao processo que habitualmente se desenvolve. Ao longo do processo, o professor pode utilizar recursos diversos como pranchas, espaguetes, flutuadores, e entre outros para auxiliar o aprendizado dos nados.
Além dos benefícios físicos da natação, destacam-se também os benefícios cognitivos por estimular o desenvolvimento da aprendizagem e o poder de concentração e benefícios psicossociais, uma vez que as atividades aquáticas podem propiciar ao indivíduo atividades em pequenos e grandes grupos, estimulando assim as experiências corporais, a integração e o convívio social.
ATENÇÃO:
*E as atividades na água são indicadas para todos os pacientes? Não! Existem contra-indicações, algumas absolutas como febre, infecções do trato urinário, infecções de pele, e outras como no ouvido, garganta, vias respiratórias e gastrintestinais, capacidade pulmonar muito comprometida, cardiopatias instáveis, doença vascular periférica e epilepsia de difícil controle. Outras são restrições, não cabem regras rígidas como as contra-indicações e sim uma avaliação apurada do fisioterapeuta e da equipe multidisciplinar quanto à relação custo-benefício, são elas: incontinência urinária e fecal, pacientes com histórico de cardiopatia, pressão arterial alta ou baixa controlada, alterações de sensibilidade ou déficit de regulação térmica, feridas ou úlceras abertas e epilepsia controlada.
Cada pessoa pode se beneficiar diferentemente para cada tipo exercício, portanto uma avaliação profissional deve ser realizada.
O vídeo “Atividades Aquáticas” mostra pessoas com PEH realizando atividades aquáticas como hidroterapia, natação e hidroginástica.
Por Celyna Rackov1, Tecia Donato1, Tabita Knaack1, Priscila Molina1,2
1Integrantes do Núcleo Médico e Científico da ASPEH Brasil, 2Fisioterapeuta
MOURA, Elcinete Wentz de; LIMA, Eliene; SILVA, Priscila do Amaral Campos E. Fisioterapia: aspectos clínicos e práticos da reabilitação. São Paulo: ARTES MÉDICAS, 2005.
Silveira, F.G. Benefícios da Hidroginástica para as capacidades funcionais e nível de atividade física em idosas de 60 a 75 anos. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, 2013.
SKINNER, A. T.; THOMSON, A. M. Duffield: Exercícios na água. São Paulo: Editora Manole, 1985.